sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Como aumentar a ingestão de água dos felinos?

Alessandra Corrêa



Cada vez mais, os gatos têm sido escolhidos como animais de companhia. No Brasil, já estamos em sétimo lugar no mundo em número de gatos domiciliados, e segundo estatísticas, em 2020 temos uma expectativa de termos uma equiparação do número de cães e gatos em nosso país.

Sabemos que todos os dias devemos cuidar de nossos pets, mas esse cuidado deve ser redobrado principalmente nos dias quentes de verão, com temperaturas beirando os 50 graus em alguns estados, e sensação térmica ainda maior. Hoje o tema abordado nos ajudará a melhorar a qualidade de vida dos nossos gatos.

Além da troca constante dos potinhos com água gelada, alguns recursos também podem e devem ser utilizados para melhorar a ingestão hídrica dos nossos bigodudos. Para poder esclarecer algumas dúvidas é preciso voltar no tempo e fazer uma correlação histórica sobre a origem dos gatos, também chamados cientificamente de Felis silvestris catus. São animais semi-domesticados, e que há muitos anos atrás viviam em áreas desérticas, caçando pequenos animais em busca de sobrevivência. A maior parte da água que eles obtinham, era retirada do próprio alimento. Este constituído por cerca de 70% de água.


Ao trazermos os gatos para o nosso convívio, colocamos a sua disposição a ração seca, que contém em sua formulação em torno de 10% de água. Além disso, colocamos os potes de água parada, e quase sempre ao lado dos potes de ração. Digo e informo para vocês o motivo de não ser uma boa opção. Historicamente, durante a caça de seu alimento, as presas caçadas pelos felinos selvagens, quando se debatiam, defecavam e urinavam, levando-os a não beberem a água próximo ao local onde abatiam as presas. Sabemos, portanto, que os gatos preferem beber a água em local diferente do local aonde comem.

Além disso, na natureza, água parada tem possibilidade de desenvolvimento de matéria orgânica, presença de microorganismos, protozoários e até mesmo ovos de algum tipo de inseto. Por isso, a água em movimento é a preferida de muitos bichanos. Colocar fontes de água na casa é sempre uma excelente opção.

Gatos também possuem uma capacidade de captação de partículas de olfação muito maior do que a nossa, e podem deixar de beber água devido a cheiro e gosto diferentes presentes na água ou nos potes. Até mesmo lavar as vasilhas com detergente de cheiro forte, como coco ou maça verde, pode influenciar na ingesta de água. Quando sou questionada sobre o animal comer no pote lavado com produto, mas não beber a água, explico que o cheiro da comida se sobrepõe ao pote. Posso citar também, que em avaliações de água onde detecta-se nível elevado de cloro residual livre, e que conseguimos sentir o gosto e o cheiro, o animal pode vir a buscar outras fontes de água. Já reparou que, normalmente, vemos os gatos bebendo em poças que ficam no chão do boxe após o banho? Além de ser um contexto mais orgânico, o movimento da água batendo no chão pode fazer o cloro evaporar, sendo então procurada.

Também não é legal colocar todos os potes no mesmo local, por exemplo. Há casos de residências onde há outro gato controlador territorial no ambiente, que não deixa que o mesmo utilize os potes. Também pode ocorrer contaminação da água com saliva de outro animal da casa com doença periodontal, fazendo com que a ingestão diminua. Outro fato, é a insegurança de um local de passagem, ou próximo a máquina de lavar. Por esses e outros motivos que podem vir a fazer com que haja menor interesse pela água, potes em diversos pontos da casa, sendo limpos e trocados diariamente, são sempre uma boa opção.

Muitas vezes, durante os atendimentos, proprietários me questionam sobre a comida úmida, e se sachê faz mal. Perguntas como: “Doutora, tem muito sódio?” “Ouvi dizer que a ração tal dá problemas urinários…” E aquele caldinho? Tiro né?” “Tem muita gordura?”

É nessa hora que eu explico que não, que a nutrição animal atualmente está avançada, e que infelizmente muitos gatos padecem de doenças degenerativas devido à ausência da ingesta adequada de água. Sabemos também, que alguns animais podem fazer uma desidratação subclínica durante anos e que é muito importante desde o atendimento pediátrico, inserir na rotina de alimentação do animal o hábito de comer a ração úmida. E não, ela não tem muito sódio e não tem muita gordura. E o caldinho não é gordura: é proteína. É como se fosse geléia de mocotó. A idéia a desmistificar a ração úmida, e fazer com que eles consumam uma maior quantidade de água através dessa opção. Infelizmente, alguns vovozinhos podem não se adaptar a essa ingestão,e por isso recomenda-se que os filhotes comecem a comer ração úmida desde novinhos.

O importante é entender a individualidade e preferência de cada animal. Há aqueles que vão preferir usar potinhos de cerâmica, outros refratários ou de plástico. Outros vão beber o filetinho de água que escorre da torneira da pia, usar as fontes de água… No final o que eu espero mesmo é que com os conselhos do Miau-au Dicas seu pet viva com muito mais saúde!

Muitos beijos e saudações,





SOBRE ALESSANDRA CORRÊA

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Alessandra Corrêa é Médica Veterinária formada na Universidade Castelo Branco. Atualmente, está finalizando sua pós-graduação em Medicina Felina no instituto Qualittas. Apaixonada pela natureza e os animais, e conhecida por ser defensora do meio ambiente e protetora. Em seu dia-a-dia, sempre ensina as pessoas sobre educação ambiental, pregando respeito ao ecossistema e uma melhor educação. Desmistifica zoonoses, e sonha com um mundo justo e com mais amor e                     igualdade. Atende também em domicílios.